quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Definições definitivas?

No último dia 22 de setembro fui até o Teatro Alberto Maranhão pensando em inscrever dois de meus trabalhos de dança-teatro, “Sente-se” e “Experimento nº1”, produzidos pela [sí-la-bAs] c. dança no II Festival Agosto de Teatro, promovido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte, através da Fundação José Augusto. Para minha surpresa, fui impedido de fazê-lo sob a alegação de que a palavra “Dança”, presente na definição da forma artística utilizada na concepção e realização destes trabalhos, impedia automaticamente a possibilidade de, sequer, apresentá-los a curadoria do festival.  O mesmo aconteceu com o projeto MOBILIDADE - grupo de pesquisa e experimentos em dança e teatro, que tentou inscrever seu trabalho “Incolor”. 

Eu pensei estar em uma máquina do tempo. De repente estávamos no século 19. Velhos preconceitos e visões arcaicas sobre a dança, e sobre o próprio teatro, surgiam na minha frente como se o mundo tivesse parado de girar a, pelo menos, 100 anos.

Frases como:  “Quando for um festival de dança, então você pode se inscrever!”, ou, pior ainda, “A dança não possui estrutura dramática e por isso não pode ser considerada teatro!” foram ditas tranquilamente. Antes que alguém dissesse: “A terra é plana!”,  eu fui embora.

Natal tem hoje, dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cursos de licenciatura em dança e teatro e a relação híbrida entre estas duas formas artísticas, um dos elementos primordiais na dança-teatro, são discutidas e aprofundadas todos os dias. Infelizmente, ao que parece, esta discussão ainda não chegou aos ouvidos daqueles que gerem, ou digerem, a cultura local.

Uma obra como “Café Müller”, de Pina Bausch, considerado um dos mais importantes e revolucionários trabalhos teatrais da 2ª metade do sec. XX, provavelmente seria excluída do festival, por não ter texto, por não haver alguém “falando” em cena.

Hoje a troca de informações e experiências tornou-se muito mais forte e extremamente relevante na produção artística em todos os cantos do mundo. Infelizmente parece que alguns preferem não ouvir, não saber.

Talvez eu devesse ter chamado meus trabalhos de “Teatro coreográfico” (seria uma pegadinha e tanto). 

Parabéns a todos os trabalhos selecionados, muito sucesso a todos os grupos, atores e diretores e espero que encontrem uma grande e calorosa recepção por parte do público. Estamos torcendo por vocês.

Mauricio Motta
Diretor Artístico
[sí-la-bAs] c.dança
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